
Cultura
CineEco: um festival que reflete e debate com a comunidade
Ana Mota, Texto
CineEco, Imagens
O CineEco, Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, que vai na 31ª edição, tem este ano uma programação extracompetição, que reforça o papel do cinema como espaço de reflexão e debate intergeracional. Em sala, realizadores e protagonistas vão debater temáticas de cariz ambiental, que vão da visão antropocêntrica da vida na Terra, ao colonialismo energético. No decorrer do evento, que decorre em Seia de 10 a 18 de outubro, estarão em competição mais de 80 filmes de 31 países.
O festival, o mais antigo em Portugal, que funciona como “precursor em torno das problemáticas ambientais”, é um dos festivais de cinema sobre ambiente mais antigos do mundo, que se realiza ininterruptamente, em Seia, há mais de 30 anos. Além da secção competitiva, que leva a concurso dezenas de filmes, muitos deles em estreia nacional, inclui atividades paralelas, que vão além da exibição de filmes e que consolidam o caminho que o festival quer trilhar na cidadania ativa.


Ao já habitual mercado de filmes, que cria momentos de partilha e debate entre estudantes de cinema e profissionais do universo cinematográfico, este ano o festival introduz, pela primeira vez, um ciclo de discussão com alunos dos vários ciclos de ensino. As sessões, que vão exibir quatro documentários com perspetivas distintas, incluem a reflexão sobre o problema do colonialismo energético, através da produção espanhola “Vidas Renováveis. Natureza ou Miséria”. O filme aborda o impacto da expansão das energias renováveis, neste caso a produção de energia eólica, em ecossistemas e comunidades locais. “É o filme mais controverso desta programação. Introduz aqui um debate sobre um tema que acho que não está ainda muito debatido em Portugal. É cada vez mais habitual olhar para o problema do colonialismo energético através da exploração dos minérios raros, mas colocado a partir de uma fonte de produção de energia eólica, como vamos ver neste documentário, é algo surpreendente”, diz Tiago Alves, um dos três programadores do festival.
O tema, abordado em diferentes produções espanholas que chegaram ao processo de seleção, será revelado pelo realizador Francisco J. Vaquero Robustillo que alerta para a forma como as energias renováveis estão a ser implementadas nos territórios, causando danos aos ecossistemas, ao setor primário e às comunidades locais.


Mostra de cinema clássico celebra reforma agrária
Dentro da programação de clássicos do cinema português, que decorre de uma relação com a cinemateca portuguesa, que acelerou o restauro de cinema português filmado em película, o CineEco vai evocar os 50 anos da Reforma Agrária em Portugal. “Terra de Pão, Terra de Luta”, de José Nascimento, reflete sobre as convulsões sociais do Alentejo no pós-25 de Abril. Já “Linha Vermelha”, de José Filipe Costa, lança um olhar contemporâneo sobre Torre Bela (1975), de Thomas Harlan, que registou a ocupação de uma herdade no Ribatejo e as várias etapas de formação de uma nova comunidade agrícola em Portugal. “Há cada vez mais cinema clássico para programar e nós estamos a acompanhar a Cinemateca nessa atividade de programação. Este ano celebramos os 50 anos da reforma agrária porque, de facto, este é o ano em que o podemos assinalar. Pretendemos olhar para uma das heranças políticas, sociais e económicas do 25 de Abril, que é esse processo de luta pelo cultivo da terra e perceber que ensinamentos é que podemos retirar dessa ação”, explica Tiago Alves.
Este ano, o CineEco apresenta uma seleção oficial de 81 longas, médias e curtas-metragens internacionais e em língua portuguesa de 31 países, propondo um mosaico cinematográfico sobre os desafios ambientais contemporâneos.
Na Seleção Internacional de Longas-metragens será exibido um conjunto de dez obras em estreia absoluta em Portugal onde o fator humano é sempre determinante na investigação, observação ou vivência de uma dimensão da crise climática.


